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Bolosofia

A rapariga dos bolos

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A rapariga dos bolos

Mousse de morangos

Vegan, saudável e deliciosa!

Tal como prometido, aqui fica a receita de uma mousse de morangos que pode ser servida como sobremesa ou devorada como um iogurte, num brunch, pequeno-almoço ou lanche.

Nesta época do ano os morangos têm um sabor incomparável, são a verdadeira fruta da época, que cresce em qualquer cantinho de terra, até colocada em vasos. A nossa horta adquire uma cor gloriosa e torna-se difícil deixá-los crescer, o impulso é de os apanhar logo que começam a corar e deixar que aquele saborzinho de sol nos invada a boca, a cada dentada.

Esta mousse torna-se verdadeiramente especial quando servida bem fresquinha, com sementes de papoila e alguns morangos frescos cortados, a acompanhar.

Ingredientes:

1 chávena de amêndoa crua (sem sal), ou cajú crú (sem sal). Aproximadamente 130 gr (após a demolha o peso aumenta em cerca de 30%)

125 ml de leite vegetal de aveia

Sumo de 1/2 limão

1 colher de sopa de geleia de arroz ou de agave

1 colher de chá de óleo de côco

1 chávena de polpa de morangos madura

Elaboração:

Colocar os frutos secos escolhidos a demolhar, em água fria, durante cerca de 4 horas. 

Ao final deste tempo, escorrer e reservar.

Triturar todos os ingredientes numa liquidificadora ou num processador potente. 

Levar ao frigorífico durante uma hora e servir com sementes de papoila (opcional) e morangos frescos cortados.

Bon appétit!

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As panquecas do Sol

As panquecas querem-se leves e desembaraçadas como os grãos de farinha. O ato de peneirar solta e areja a mistura de ingredientes secos. Os líquidos, no cuidado de os manter à temperatura ambiente, fazem a ponte para a afetuosa textura daquelas rodelas sedutoras.
Esta receita de panquecas foi um presente do Sol, filho da minha amiga-mestre Peta, uma cozinheira australiana com alma de artista. Cozinhar é um ato de criatividade e de liberdade, assim me disse. E eu percebi exatamente isso, assim que provei as primeiras panquecas que me serviu. Barradas com uma fina camada de manteiga de amendoim, suavemente salpicadas com açucar e umas gotas de limão, num desmazelo agridoce tão surpreendente quanto intrigante.
Cá em casa a disciplina requer que estas pequenas iguarias se repitam quase todos os fins-de-semana. Muitas vezes com uma combinação de fruta fresca, geleia de agave ou de arroz e requeijão vegan, que não fica nada atrás. No prato restam sempre poucas e acabamos a disputar as mais tostadas.

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INGREDIENTES
1 1/2 chávena de farinha tipo 55, sem fermento
3 1/2 colheres de chá de fermento
2 colheres de sopa de açúcar  
Pitada de sal refinado
3 colheres de sopa de manteiga vegan sem sal
300 ml leite de amêndoas
Manteiga vegan q.b.  (no caso de não utilizar uma fantástica placa elétrica não-aderente)

ELABORAÇÃO
Leia a receita até ao fim e comece por colocar todos os utensílios à mão. Separe, pese ou meça os ingredientes, conforme as medidas acima indicadas. A este procedimento chama-se "Mise en place". É uma expressão de origem francesa que significa "pôr tudo no lugar" antes da confeção.
Comece por juntar a farinha e o fermento e peneirar, em conjunto, para arejar. A estes, acrescente o açúcar e o sal refinado e misture, com uma colher ou batedeira de mão. Derreta a manteiga na taça pequena. Faça um buraco no meio da mistura seca e coloque a manteiga, misturando ligeiramente. Adicione, lentamente, o leite, mexendo com cuidado - do centro para os lados - para não formar grumos.
Deixe repousar a massa durante 10 minutos, à temperatura ambiente. Coloque a placa a aquecer (temperatura média-quente) e, quando pronta, distribua a massa com a ajuda da concha.
Assim que surgirem as primeiras bolhas, vire a panqueca com uma espátula e deixe cozinhar durante cerca de mais um minuto.
Retire-as e coloque-as empilhadas num prato. Uma torre inclinada deliciosa!

Resistimos a uns rolos de canela?

Assumo o meu vício por livros de culinária, especialmente por livros de pastelaria, e, à medida que os coleciono, observo as prateleiras da minha cozinha a ficarem cada vez mais pequenas. Estas leituras desafiam os meus sentidos e a procura do próximo livro - o tal - é uma empreitada que me absorve. Foi numa destas buscas que me apercebi da revelação divina que são os rolos de canela do livro Violet Bakery Cookbook, de Claire Ptak.

A americana Claire é um exemplo de empreendedorismo e fonte de inspiração, é fundadora da marca Violet e desde há mais de uma década mudou-se, por amor, para Londres. Com uma loja sedeada na zona de Hackney, Londres, mostra como conciliar a simplicidade com a consciência orgânica, em equilíbrio perfeito com a doçura. 
À semelhança de Claire, os meus bolos são feitos a pensar sobretudo no sabor. Depois, vêm a estética e a apresentação. Tudo coordenado, é a perfeição! 
Porque não resisto a estes rolos de canela, tal como não resisto a bons livros de pastelaria, aqui vos deixo a receita de Claire Ptak desmistificada, para conseguirem uns imbatíveis rolos de canela e cardamomo feitos em casa.
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ROLOS DE CANELA "VIOLET LONDON"
INGREDIENTES
(12 unidades)
Para o recheio:
75 gr manteiga vegan
250 gr açúcar amarelo
1 colher de sopa de canela

Para a massa:
560 gr farinha sem fermento tipo 55
2 colheres de sopa de fermento
2 colheres de chá de sal fino
2 colheres de chá de cardamomo moído na altura
240 gr de manteiga vegan sem sal fria, em cubos
300 gr leite de amêndoa

Ingredientes extra:
Manteiga vegan sem sal derretida para barrar as formas
Açúcar branco fino para finalizar os rolos

ELABORAÇÃO
Pré-aqueça o forno para 200º (ou 180º com ventilação) e barre as formas com a manteiga vegan sem sal derretida.
Prepare o recheio, derretendo a manteiga e mantendo-a num local quente, de forma a não solidificar.
Misturar o açúcar amarelo com a canela e reservar.
Agora, passe à massa.
Escolha algumas vagens inteiras de cardamomo, abra e retire as sementes. Moa as sementes num almofariz e sinta o perfume forte e sabor alimonado. Na taça da sua batedeira ou misturadora, combine os ingredientes secos, incluindo as sementes moídas de cardamomo, com os cubos de manteiga e envolva até obter uma mistura grosseira, areada. Adicione o leite frio até formar uma bola que se destaca das paredes da taça. Retire para uma superfície polvilhada de farinha e deixe descansar durante alguns minutos.
Dobre a massa sobre si mesma duas ou três vezes e deixe descansar, desta feita durante 10 minutos.
Polvilhe uma mesa ou bancada grande com farinha e, com a ajuda de um rolo de cozinha, estenda a massa até obter cerca de 5 mm de espessura (meio dedo mindinho). Espalhe a manteiga derretida e, logo de seguida, a mistura areada de açúcar e canela.
Enrole delicadamente, começando pelas pontas e mantendo a massa apertada e o mais direita possível. No sentido oposto ao seu, enrole a massa numa espiral e, terminado o rolo, aperte de forma a obter a mesma espessura em todo o comprimento. Corte a massa em 12 rolos iguais, retire cerca de 5 cm da ponta e dobre para baixo de cada rolo, de forma a tapar a base e não deixar escorrer o recheio, durante a cozedura.
Coloque nas formas, com esta base para baixo e deixe cozer durante 25 minutos.
Assim que estiverem prontos, retire da forma e deixe arrefecer numa grelha. Mergulhe cada um dos rolos numa taça de açúcar branco. O efeito é fantástico e torna-os ainda mais crocantes e decadentes.

Veja a Claire em ação com os seus rolos de canela aqui: https://www.youtube.com/watch?v=uWBC_jAk-18

Apetite pelas palavras

Para escrever sobre comida, o primeiro requisito que apresento é... apetite. Depois vêm o prazer e a alegria.
A pura felicidade surge na partilha.
Aqui vou colocando as minhas receitas e as receitas que as inspiram, recordo escritores e autores de comida e trago à luz do dia os livros (ai os livros!), que são a minha perdição e que, espero, acalentem outros corações na descoberta de memórias e no exercício dos sentidos. O efeito semelhante ao de bolos quentes que trazem consigo o aroma de casa feliz.
Cresci pertinho dos meus avós, embalada pelas suas regras e as suas histórias. A avó Elisa fazia papas de milho e filhós como ninguém. Era a grande matriarca e com muito pouco montava mesa farta, gulosa e bonita. No tempo dos 17 anos, quando as horas pareciam eternas para lá dos estudos, da dança e dos amigos, a coleção de revistas "Teleculinária" da avó Lurdes começou a criar em mim enorme fascínio. Eu folheava divertida aquele conjunto de cadernos de cozinha e ela permitia que eu, a neta menina e mimada, sonhasse sobre aquelas páginas já anotadas e gastas.
Nesta dança de palavras e bolos e doces, eu era feliz e avançava apaixonada nas primeiras tentativas de pastelaria caseira.


A rapariga dos bolos começou a tomar forma na cozinha da mãe Alice, cujo forno, transtornado, passava o dia exausto de tanta fúria na experimentação. E a semanada que o pai Frederico tão generosa e religiosamente entregava perdia-se para sempre na gula de novas revistas e livros. O equivalente ao prazer solitário de saborear gomos finos de laranja cristalizada mergulhados em chocolate negro num dia frio dia de Inverno. 
Bolosofia é um projeto nascido em 2008 e que me levou a dedicar, de forma séria e continuada, à pastelaria artesanal, aquela que, com muito amor e paciência, vemos nascer nas nossas cozinhas. A este espaço de comunicação trago a palavra escrita em simbiose com os sabores, texturas, cheiros e aparências na experiência da pastelaria. Sinto que é algo que temos em comum, universal e unificador.
Acredito que o conforto que vem das maçãs fatiadas, do caramelo acabado de fazer, da massa areada estendida, do açúcar quebradiço num bolo de arroz, envolve até os mais céticos. Estou certa de que o carinho e atenção colocados nos pratos e talheres e flores distribuídos numa mesa de refeição, acolhe os humanos num ponto de encontro de amor e diálogo. A paz no mundo também se cozinha à mesa.
Neste espírito de experiências sensoriais, doces e amargas, ácidas e pungentes, procuro o bolo perfeito. Aquele que nos traz à presença de memórias, na degustação, e que simboliza a arte que coopera com a alma produtiva do pasteleiro. 
Ou melhor, da rapariga dos bolos, como alguém me batizou em tempos.

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P.S. Trabalhar com as mãos na massa é uma terapia praticada pela rapariga dos bolos.